terça-feira, 28 de agosto de 2007

Carta de Claudio Lavazza ao tribunal de Cordoba (Espanha), preso anarquista acusado de assassinato de 2 policias depois de um assalto ao banco Santander em Córdoba...
“Não desejo justificar minha atuação frente a sala que vão me julgar; não me importa mesmo sua opinião ou decisão, não quero nenhuma classe de trato de meus inimigos nem quero me justificar frente à opinião pública. A mesma que olha e permite a miséria diária e a eliminação de milhares de pessoas, e que se indigna pela morte de dois policiais, que quando se trata de nossos disparos pensa que somos assassinos e quando é a policia que mata “se faz justiça”. Na sangrenta guerra que o capital impõe milhares de indivíduos caem devido as balas das forças de segurança do Estado, cada dia, vítimas das diferenças sociais e da estratégia da “Economia de mercado”. Para manter a segurança dos ricos, esse exército de mercenários são recrutados, treinados e postos estratégicamente na rua para vigiar, seguir e se é necessário eliminar a quem desobedece as regras que eles impõe. Sempre que uma guerra se manifesta, os bancos, os grupos investidores, as multinacionais do armamento, os estados e seus interesses estão prontos para injetar dinheiro nesses negócios sujos. Vivem e proliferam para o beneficio de uns poucos, a custa da miséria e a morte de muitos seres humanos. Atacar esse grupo social para roubar-lhe algo de seu imenso tesouro é o ponto mais digno da luta de cada trabalhador, é muito melhor seguir esse caminho cheio de perigos (prisão, morte) que levar uma vida ajoelhado frente aos poderosos por um humilhante salário. Sempre fui um proletário, um marginado, um rebelde, um anárquico, inimigo desse e de qualquer sistema, para mim a rebeldia contra a opressão é somente uma questão de estatística, de equilíbrio: entre um homem e outro homem perfeitamente iguais, os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Não pode haver diferenças sociais; se há, enquanto uns abusam e são tiranos, os outros protestam e odeiam. A rebeldia é uma tendência niveladora e por isso racional, natural. Os oprimidos, os depredados, os explorados, tem de ser rebeldes porque tem que recordar seus direitos até consquistar sua completa e perfeita participação no patrimônio universal. Este sistema percebe o rebelde como fisicamente ameaçador e ideologicamente perturbador, devido aos “abusos e enganos” que dizem que ele comete e ao mau exemplo de anti-sociabilidade que poderiam dar. Sua existência é dissidência aos olhos de um Estado que quer ser forte e hegemônico, que pra isso deve atuar com severidade eliminando ou afastando-o.Este tipo de sanção é hoje em dia cada vez mais aplicada com vigilância constante na rua e sistemas penitenciários cada vez mais semelhantes a campos de extermínio, tentando dessa maneira destruir o individuo mental e fisicamente. Aquele 18 de dezembro de 1996 (dois policiais mortos), em minha fuga defendia minha própria vida e liberdade. Sabia muito bem que o inimigo não tinha escrúpulos, e demonstrou isso disparando primeiro à saída do banco e logo tínhamos uma emboscada que teria sido fatal se não fosse o feito de levar coletes à prova de bala (ficamos feridos). Minha decisão foi simples: minha vida ou a deles. E que fique claro de uma vez: nós fomos ali para levar o dinheiro sem a intenção de matar ninguém. Sou amante da liberdade e só posso brindar meu respeito e minha solidariedade frente aos que como eu tem o valor e a dignidade de defender sua própria vida com unhas e dentes. Como inimigo da exploração e da miséria não sinto nenhum sentimento de compaixão a aqueles que em nome do privilegio torturam, prendem e assassinam. Não tenho medo às duras condenações; os anarquistas, temos a prisão geneticamente no sangue. Nem medo à morte, este sentimento perdi faz tempo.
Nem medo aos tribunais divinos, porque não acredito em nenhum deus; frente aos tribunais terrenos nunca me coloquei de joelhos, só me interessa o juízo dos meus, ou seja, os companheiros que lutam por um mundo novo. Esta é uma guerra, uma guerra social, e cada parte chora seus caídos; nós, já faz muitos séculos choramos pelos nossos.”
















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