sexta-feira, 25 de janeiro de 2008











Governo chileno extermina o povo mapuche





Patrícia Troncoso, presa política mapuche





O Chile é um país cujos dirigentes políticos se vangloriam de possuir um ordenamento democrático mas escondendo a prática consentida de torturas e de políticas etnocidas. Isto é conseqüência de estar regido pela Constituição promulgada durante o regime de Pinochet. O maior símbolo desta contradição, ser democrata e praticar o extermínio do povo Mapuche, se produz pela existência de outra lei da ditadura. Trata-se da lei N1 18.314, conhecida popularmente como Lei antiterrorista. Em vigor desde 16 de maio de 1984, foi idealizada pelo então ministro do Interior da Junta Militar, Sergio Onofre Jarpa, para deixar sem efeito o habeas-corpus e aplicar a doutrina do inimigo interno. Instrumento que permitia às forças de segurança atuar a seu bel prazer.
Torturou-se e encarcerou-se a milhares de cidadãos sob o pretexto de violar a propriedade privada, o território e ser inimigo interno da pátria. Após anos de luta, quando muitos acreditavam superados os tempos da infâmia, o governo manda aplicar a dita lei contra o povo Mapuche. Ao fazê-lo, se situa ao mesmo nível dos que a promulgaram e viola todos os princípios democráticos de igualdade, justiça e dignidade. Condena-se o povo Mapuche ao extermínio. É a solução para silenciar a voz reivindicativa de seus dirigentes nestes anos de enfrentamento às políticas de usurpação.
Aplicar a Lei antiterrorista é parte da solução final. Significa imputar aos dirigentes mapuches suas participações em atividades contra a segurança do Estado e da propriedade privada. Atualmente mais de meio milhar estão na prisão pela dita lei. Para evitar ser descoberto, esta é a estratégia elaborada pelo Estado chileno para provocar o extermínio e garantir sua execução:





1) A mordaça comunicativa. Censura e controle dos meios de comunicação. Nada deve ser conhecido sobre a dita atividade. A imprensa privada também participa;
2) A oposição é cúmplice com a política do governo;
3) Os latifundiários ufanam-se por seus privilégios e não duvidam em utilizar a força paramilitar cientes de que as forças de segurança lhes permitem utilizá-la;
4) O colonialismo interno é o mecanismo de exploração vigente dos povos Mapuches e indígenas do Chile, e
5) As transnacionais esperam se beneficiar do etnocídio e se alçar como as maiores proprietárias das riquezas hidráulicas.
A espanhola Endesa já o fez, em 1999, com a represa Ralco, ao se apossar do território do povo Pehuenche e ocasionar o desaparecimento do patrimônio cultural deles. Assim, todos fazem parte de um festim próprio da globalização neoliberal, impróprio para democratas.
A luta foi dura. Ralco, um ponto de inflexão. Agora inicia-se o ataque final. Em dezembro de 2001, acusa-se de um incêndio intencionado de pinheiros, propriedade da Forestal Mininco, aos líderes da coordenadora Arauco Malleco e à populares mapuches. Será aplicada a Lei antiterrorista, entre outros, a Héctor Llaitul, Juan Marileo Saravia, Jaime Marileo Saravia, Juan Carlos Huenulao Lielmil, Patricia Troncoso e José Henchunao.
Esta estratégia pueril é a forma de mostrar ao povo Mapuche o descontentamento por sua corajosa defesa de seus direitos territotiais. Não devem levantar a cabeça frente ao homem branco. E se o fazem, sofrem as conseqüências. O governo aplica a Lei antiterrorista como artilharia do Estado. Posteriormente simula um julgamento onde as testemunhas de acusação saem encapuzadas, sem rosto, sem nome real. Onde camponeses mapuches acusam seus companheiros sob torturas, ameaças de morte à sua família e invasão à seus domicílios. E, quando superam o medo e contam a verdade dos fatos, o julgamento é suspenso sine die por ordem do Estado, porém não se paralizam as sentenças.
Após sete anos, e ante a ignominia, em outubro de 2007, iniciaram uma greve de fome, Hoje, em 2008, Patricia Troncoso está cumplindo 80 dias sem alimentos. Está em ponto de morrer. O resto dos acusados desistiram esperando uma retificação por parte do governo. Sua petição é simples: liberdade aos presos políticos mapuches, desmilitarização da zona de conflito e fim das invasões policiais. A mediação do bispo de Temuco parece não ser suficiente. Patricia já perdeu 22 quilos. Sua carta à Bachelet é pura franqueza, eis alguns parágrafos:
"Eu quero perguntar-lhe (...) Você que foi prisioneira política, que foi torturada, sente hoje o prazer de nos torturar. O que sente você senhora presidenta ? (...) Que lástima que você tenha se esquecido de tudo o que significa a prisão política e a morte de tantas pessoas ! Você, com a atitude soberba de seu governo e de seus representantes, hoje em dia nos torturam condenando-nos à uma morte silenciosa".




O informe do relator especial das Nações Unidas e as liberdades fundamentais dos indígenas, Rodolfo Stavenhagen, em 2003, depois de dois anos do caso, recomendou ao governo do Chile não criminalizar e não penalizar as atividades legítimas de protesto social das comunidades indígenas, a não aplicação da lei antiterrorista, a revisão do caso dos lonkos* processados, a reforma do processo penal de testemunhas sem rosto, não aplicar o conceito de ameaça terrorista ou associação delituosa para os fatos relacionados com a luta pela terra ou reclamações legítimas dos povos indígenas. Assim mesmo, ele mostrou, em nome do Comitê, a sua preocupação pela aplicação das duas leis: a antiterrorista e a de Segurança do Estado nas terras ancestrais mapuches. Sem dúvida suas recomandações não foram levadas em consideração. O plano do governo da Concertação e da oposição continua sendo o extermínio Mapuche. Para este objetivo, o governo do Chile desconhece tratados internacionais, não cumple convênios nem respeita acordos. Esperamos que o Estado chileno não cometa seu crime de lesa humanidade contra o povo Mapuche. Se o fizer os atuais dirigentes políticos passarão à História como etnocidas.

Lonkos* - Os Mapuches não têm governo. Praticam um regime próximo do anarquismo em que todos respeitam todos e todos fazem suas tarefas. Quando necessário, reunem-se num espaço, para eles sagrado, e indicam um representante - o lonko - para conduzí-los durante àquela necessidade.

2 comentários:

Giuseppe disse...

Temos de nos infiltrar no PODER FORMAL !!!
(Como a raiz que abre caminho pela fenda no muro!!!)
Força, gente! Se desanimarmos será muito fácil continuarmos sendo fantoches eleitorais!
Se quisermos novidades reais na política, temos de nos mexer!
Pelo menos em nós mesmos temos de confiar! Portanto temos de fazer o poder (ou pelo menos parte dele, como orçamento) migrar DELES para NÓS !!! Assim fica muito mais difícil subornar 170.000.000 de pessoas que 500 !!! Quem quiser saber mais pode acessar... http://vozdasgerais.blogspot.com ... pois lá tem até o abaixo assinado dessa proposta de emenda constitucional. Em resumo... falar não basta, temos de sacudir as estruturas... http://vozdasgerais.blogspot.com

Anônimo disse...

blog abandonado...?!