domingo, 14 de outubro de 2007

LEI E AÇÃO DIRETA











Texto retirado do jornal Fenikso Nigra (distribuído gratuitamente no VI encontro de expressões anarquistas que aconteceu em Campinas/SP dia 13/10/07)

Não há outras forças na sociedade fora das forças individuais: essas forças somam-se pela solidariedade ou destroem-se pelo embate dos exclusivismos ferozes. Mas não há outras. A ação governamental nada lhe acrescenta; a lei vale zero.
Se a lei concede liberdades e reformas que os interessados não reclamam nem usam, não será aplicada: os mesmos que ela pretende favorecer a repelem e transgridem. Se a lei viola liberdades que já entraram na natureza dos homens capazes de iniciativa e ação, não há governo capaz de a executar. Se a lei, enfim, reconhece uma conquista generalizada, consigna uma concessão feita pelos governantes aos governados, ela é absolutamente inútil porque nem mesmo serve de garantia: a garantia está nos indivíduos que gozem e atuam a liberdade conquistada e estão pronto a defende-la a qualquer momento. De nada valem liberdades escritas e permitidas no papel; valem as que os homens usam, sem pedir licença.
O Brasil tem uma constituição cheia de liberdades, que o povo não usa e não sabe respeitar... Todos os dias os jornais enumeram casos extraordinários de arbitrariedade, próprios dos sertões africanos ou da Rússia. Atos inquisitoriais deixam os ânimos indiferentes... E há graus: No Rio, por exemplo, os “abusos” são menos possíveis do que noutras partes, sujeitas à mesma constituição.
Noutro países, de leis menos liberais, há liberdades.... porque o povo as usa. Leis celeradas, promulgadas e executadas num momento crítico, de pavor e desorientação, não podem depois aplicar-se....
È pois perder tempo e forças dedicar a atividade ao fabrico de leis, à conquista da legislação ao parlamento.
Desenvolver as iniciativas individuais, as vontades de agir, formar consciências – eis a única e difícil tarefa. Trata-se de fazer subir o individuo a uma estima de si mesmo, a uma dignidade que o leve ao gozo de cada vez mais liberdades, mais bem-estar. No campo político, pela solidariedade e pela ação direta, a atuação incessante de liberdades, cuja violação ele não poderá permitir.
No campo econômico, o desenvolvimento do sentimento bem-estar, do consumo, que leva o homem a não vender a sua força de produção por um preço que não lhe permite a vida a que está habituado, e o impede a integral emancipação.
O campo da vida social – da propaganda, da educação, da ação direta, da realização permanente é vastíssimo. Demais é o único se não se quer desperdiçar forças.
E a lei não só faz perder tempo e forças, mas atinge as próprias fontes da energia.
Pedir uma leia é já indicar um estado de espírito cristão, confiar na virtude da papelada legal, mostrar-se incapaz de agir diretamente. Mas o mal é mais quando se organiza toda uma propaganda (eleitoral, parlamentar), se consagra uma boa parte da energia coletiva a demandar uma “legislação operária”, um sistema de reformas... legais.
Faz-se propaganda, dizem. È certo: a propaganda do messianismo. È pouco provável que o deputado comece dizendo, por exemplo, que a lei é nada e tudo dependa da consciência, da ação, da energia dos indivíduos...
Pelo contrário: para o candidato, as reformas legais são utilíssimas aos operários...
Ou não seriam eleitos...





Neno Vasco – A voz do trabalhor Ano 1 – Nº 11 – 17 de maio de 1909 – p.1.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eles estipulam algumas leis para que sejam seguidas. Porém quem segue elas somos nós que temos o direito apenas de ficarmos calados.
Eles porém desfrutam de uma mordomia a base de Picanha e piscina.

Se cuida pérola negra